O FUTURO ENERGÉTICO E A GERAÇÃO NUCLEAR NO BRASIL
O tema energia é um dos mais importantes da agenda nacional. A política energética, a questão tecnológica envolvida e seus impactos na economia são temas suficientemente relevantes para fomentar o debate e estimular discussões que contribuam para o aprimoramento do setor, de modo a preservar e consolidar a competitividade e a economia do país. Dois aspectos são fundamentais para compreensão do equacionamento energético do setor elétrico brasileiro.
O primeiro, e o mais importante, o baixo consumo per capita anual de eletricidade: 2.300 KWh/hab./ano! Baixo, quando comparado com os países desenvolvidos, todos com consumo acima de 5.500 KWh/hab./ano, sem falar nos Estados Unidos 13.000 KWh/hab/ano e a Noruega 23.500 KWh/hab./ano. Com 200 milhões de habitantes, pode-se imaginar a expressiva quantidade de energia elétrica que o Brasil terá que produzir ao longo dos próximos anos.
O segundo, a perspectiva do esgotamento dos recursos hidrelétricos, ambientalmente viáveis, ao lado da vulnerabilidade de um sistema com alta predominância hídrica e de grandes dimensões. Estes dois itens combinados pressionam por uma busca permanente de fontes de geração, capazes de produzirem grandes quantidades de energia para incrementar e dar sustentação com mais segurança energética, econômica e ambiental ao crescimento socioeconômico do país.
De uma forma condensada, três são as modalidades de geração: a energia de base (geração permanente e contínua), a energia de ponta que garante com segurança o atendimento nas horas de demanda máxima e as energias intermitentes, chamadas de complementares, como eólica, solar, PCH etc. O que dá sustentação ao sistema, são as energias de base e de ponta. As complementares ajudam, mas dependem da existência das outras. A energia nuclear produz essencialmente energia de base. Assim como as usinas a carvão e as termelétricas a gás natural. Isto significa que, a partir de agora, a matriz de energia elétrica do país aumentará a participação dessas três fontes num grau de percentual que dependerá da política a ser adotada.
Estudo recente (julho de 2013) da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), intitulado “O Futuro Energético e a Geração Nuclear”, apresenta três cenários com participação destas três fontes no ano de 2040. Esses três cenários, respectivamente, visualizam a necessidade de mais 8, 18 ou 23 usinas nucleares após Angra 3. Como exemplo, no cenário de menor crescimento no país (+ 8 usinas nucleares até 2040), a sua viabilização exigirá preparação imediata para a implantação dessas usinas, ao ritmo de 1 a cada 2 anos, para permitir a operação das mesmas a partir do início da próxima década, e chegar, em 2040, produzindo a energia necessária.
Hoje se discutem a implantação dessas usinas tanto aqui no Nordeste como no Sudeste, mas a vulnerabilidade do sistema elétrico do nordeste, a “black-outs” requer uma prioridade e uma velocidade na decisão. A produção de energia de base, garantiria a permanência de parte do sistema elétrico em funcionamento, parte esta que seria tão maior quanto maior for o número dessas unidades, tornando o sistema menos vulnerável, tanto a estiagens no Rio São Francisco quanto as quedas nas grandes linhas de transmissão.
O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do planeta, com boa parte delas situada na região Nordeste. A geração nuclear é a forma mais concentrada de produção de grandes quantidades de energia que o homem já inventou. Produz essa energia com total controle dos seus rejeitos, de forma limpa e econômica, sendo a que menos emite gases de efeito estufa. Vem sendo continuamente aprimorada, sendo estatisticamente a mais segura de todas as tecnologias, a despeito de Fukushima.As novas tecnologias, essas que deverão ser construídas no Brasil, teriam suportado todos os impactos provocados pelo terremoto e tsunami no Japão, apesar das dimensões milenares desses fenômenos.
Neste ano de 2013, vários países, entre eles, Estados Unidos e Inglaterra, mas também México e Argentina, estão construindo 65 novas usinas nucleares, sendo que nossos companheiros do BRICS, China, Índia e Rússia, a sua maioria, 40. Outras 160 estão em fase de planejamento e mais 340 estão sendo propostas. Além disso, o produto do setor nuclear não é apenas energia, mas, acima de tudo, conhecimento, treinamento, qualificação e capacitação tecnológica e industrial nos níveis mais altos, com elevados benefícios para a economia como um todo e também pelo desenvolvimento socioeconômico produzidos pela construção e operação nos municípios circunvizinhos.
Combater, irracionalmente, as Usinas Nucleares tem sido prática de algumas ONGS instaladas aqui no Brasil. Os seus argumentos são sempre os mesmos: desatualizados, sem base e de baixa qualificação, aparentemente, com um único objetivo de confundir o leitor.
Entidades como o Clube de Engenharia de Pernambuco merecem todo o respeito e admiração, principalmente quando promovem debates de alto nível, como o último ocorrido no início de agosto, no seminário "Desenvolvimento e Energia Nuclear". Nesse evento foram esclarecidos vários pontos de interesse, num ambiente de grande liberdade e transparência. Curioso é que as mesmas entidades que criticam com afinco a energia nuclear, com divulgação de artigos durante todo o ano, quando convidadas a participar , não comparecem, perdendo uma excelente oportunidade de esclarecer seus pontos de vista , de atualizar seus conhecimentos e de adquirir novos.
Pernambuco irá sediar na semana de 24 a 29 de novembro de 2013, a Conferencia Internacional do Atlântico sobre Energia Nuclear (www.inac2013.com.br), no centro de convenções,, que abordará um largo espectro sobre o assunto, passando pela Medicina, Agricultura, Pesquisa, Usinas Nucleares, Industria Pesada, etc.Mais uma grande oportunidade para discussão e aprendizado desta grande tecnologia.
* Carlos Henrique Mariz é assistente sênior da Presidência da Eletrobras Eletronuclear e coordenador regional da Eletrobras Eletronuclear no Nordeste