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Cidadania do idoso


A ordem do Ministro da Previdência, depois revogada, bloqueando o pagamento de benefícios de que são credores os maiores de 90 anos, repõe na mesa de debates a questão da Cidadania do idoso.

O respeito ao idoso não é um fato natural, nas sociedades capitalistas. Nestas, as pessoas são valorizadas pela capacidade de produzir e consumir. O idoso não “produz”, na visão que as sociedades capitalistas têm do que seja produção. A única “senha” de que dispõe o idoso, para ter o status de “pessoa”, nessas sociedades, é ser “consumidor”.

Estamos mergulhados numa sociedade capitalista. O que fazer então para resguardar um “mínimo ético”, dentro de uma tão desumana forma de organização social?

Creio que a primeira atitude que devemos adotar é a de buscar manter um “nível de consciência” que nos permita discernir com clareza os fatos de cada dia e sobre esses fatos emitir julgamento.

Tenha o idoso, ele próprio, sentimento de auto-estima e valor. A propósito desse tema, como são encorajadores os ensinamentos bíblicos: o Gênesis indica a vida longa como um prêmio concedido por Deus; o Eclesiástico ensina que a experiência acumulada pelo idoso deve ser guia para os jovens; o Livro da Sabedoria sentencia que os cabelos brancos são sinal e virtude dos mais velhos.

Também filósofos e escritores nos ajudam a compreender o significado da Terceira Idade: uma bela velhice é a recompensa de uma bela vida (Pitágoras); saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria e uma das partes mais difíceis da grande arte de viver (Amiel); os velhos precisam de afeto, como precisam de sol (Victor Hugo); não respeitar a velhice equivale a demolir de manhã o telhado da casa em que se há de pousar de noite (Karr).

Algumas pessoas encaram a aposentadoria como se marcasse o “ponto final” nas atividades produtivas. Nisto fazem coro, inconscientemente, à visão capitalista do que seja produzir.

No caso dos magistrados (meu ofício), o assunto é tão sério que atinge a dimensão existencial.

Mas o fato não ocorre apenas com juízes. Advogados, professores, médicos, comerciantes, bancários, jornalistas, funcionários públicos graduados ou modestos, profissionais em geral experimentam a contraditória angústia da aposentadoria.

Conselhos e sugestões de psicólogos e médicos tentam propor estratégias para que o "rito de passagem" ocorra sem traumas.

De minha parte a aposentadoria como juiz de Direito foi sofrida. Desligava-me de um trabalho a que me dediquei com entusiasmo e vocação.

Continuando, entretanto, a exercer o magistério na Universidade Federal do Espírito Santo, pude suportar melhor a perda do cargo de juiz.

Ultrapassei em quase dois anos o tempo exigido para a aposentadoria como professor. Essa teimosa obstinação rendia-me um prejuízo mensal, ou seja, eu deixava de perceber os acréscimos salariais que a inatividade me conferiria.

Surge então no cenário do país um Ministro banqueiro lançando anátemas contra os professores. Não resisti aos impropérios. Solicitei aposentadoria. Mas fiquei acabrunhado.

Minha tristeza só desapareceu quando encontrei um novo itinerário.

Sou hoje um Professor Visitante (no meu Estado) e um Professor itinerante (no Brasil). Tenho percorrido o país, de norte a sul, dando seminários de Cidadania, Ética e Direito, em universidades, OABs e noutras instituições.

O caminho que encontrei resultou do conselho de pessoas amigas. Mas não é o único possível.

Muitas coisas extremamente úteis e emocionalmente gratificantes podemos fazer nesta vida, independente disso de estar aposentado ou não. Cada pessoa procurará a rota da felicidade, de acordo com as circunstâncias.

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