Propaganda e Realidade
Na obra mais importante sobre política, O Príncipe, Nicolau Maquiavel ensinou: “os homens são tão pouco argutos, e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar”.
Não há dúvida de que o mestre do poder conhecia a natureza humana, como a conhecem os publicitários. Esses especialistas em marketing podem fazer vender qualquer coisa: uma imagem, uma pessoa, um candidato, uma idéia, um produto, um serviço. Se mercadoria for de má qualidade, só se saberá depois de adquirida, mas ai será tarde, a menos que se possa trocá-la por outra melhor. Naturalmente há os que se conformam com a compra, ou acreditam que realmente estão de posse de um bom produto, mas se ele é muito ruim, a maioria dos consumidores perceberá o logro e não haverá marketing que resista a realidade.
Com relação a política, os limites da ilusão são muito amplos e, em vez de marketing será melhor falar em propaganda, essa técnica de manipulação de comportamentos que atua no terreno fértil das emoções, dos sonhos e dos símbolos.
O propagandista busca resultados rápidos; não ensina como pensar, mas em que pensar; não induz à responsabilidade individual e ao espírito aberto, mas utilizando-se de efeitos de massa, busca produzir um espírito bloqueado. Além disso, os experts em propaganda conhecem aquele pensamento de Freud: “A maioria dos homens experimenta a imperiosa necessidade de admirar uma autoridade, perante a qual possa se inclinar e pela qual seja dominada e por vezes maltratada”.
Naturalmente a propaganda sempre foi praticada, mas agora, além do maior requinte de estratégias, existem meios de comunicação de massa muitíssimo mais eficientes para propagar a propaganda. Assim, o pensar por si próprio, esse grande mal que os poderosos jamais toleraram (Sócrates foi executado pelos atenienses por corromper a mocidade ao fazê-la pensar por si mesma) hoje se torna cada vez mais difícil de ser exercido, pelo menos pela grande maioria.
A propaganda pode ser feita, entre outras maneiras, através da censura, quando se reveste de dois aspectos: 1º - Controle seletivo de informações a fim de favorecer determinado ponto de vista. 2º - Deliberada deturpação de informações (o que lembra o “duplipensar” que Orwell descreveu em “1984”).
O político que se prepara para alcançar o poder, deve encarnar em sua própria imagem a propaganda através de símbolos. Exemplo: ele enverga a personagem do operariado, simbolizando desse modo a classe dos trabalhadores, dos oprimidos, dos explorados. Com isso, atrai a simpatia e a solidariedade do eleitorado. E na medida em que sendo um “humilde operário” consegue se elevar aos píncaros do poder, redime toda a classe que representa, pois esta sente como numa ilusão de ótica ideológica, que também chegou lá através do seu “salvador”.
O político deve ser muito bem treinado para saber usar a sugestão. Assim, dará a impressão de que defende o que está de acordo com as crenças existentes, e que não representa nenhuma ameaça às convicções do seu público.
Mais ainda, o político em campanha (e hoje em dia tem-se a impressão de que as campanhas são permanentes) deve ser instruído por seus propagandistas para dirigir-se ao povo através de discursos baseados em “pontes” de acesso a mentalidade coletiva, tais como: consideração de problemas simples e não complexos (os pobres têm fome), confirmação de preconceitos (a Alca vai nos colonizar porque os americanos são maus e nos exploram), sensação de pertencer a alguém ou a alguma coisa, que não pertencem a outros (a mística do partido sem mácula), ênfase em um inimigo a quem culpar por frustrações (qualquer ‘herança maldita” serve).
Pesquisa CNT/Sensus, divulgada em 21/10/03 e publicada na Folha de São Paulo, em 22/10/03, mostrou que a popularidade do presidente sofreu sua maior queda desde a posse (caiu 8,3 pontos percentuais, passando de 76,7 para 70,6). A Avaliação do governo também piorou. Os índices de ótimo e bom ficaram em 40,7 contra 47,9% de agosto. Em que pese, portanto, a continuidade de uma espécie de catalepsia popular, nota-se que a propaganda tem seus limites, ainda que eles sejam muito extensos.
Não há dúvida de que o mestre do poder conhecia a natureza humana, como a conhecem os publicitários. Esses especialistas em marketing podem fazer vender qualquer coisa: uma imagem, uma pessoa, um candidato, uma idéia, um produto, um serviço. Se mercadoria for de má qualidade, só se saberá depois de adquirida, mas ai será tarde, a menos que se possa trocá-la por outra melhor. Naturalmente há os que se conformam com a compra, ou acreditam que realmente estão de posse de um bom produto, mas se ele é muito ruim, a maioria dos consumidores perceberá o logro e não haverá marketing que resista a realidade.
Com relação a política, os limites da ilusão são muito amplos e, em vez de marketing será melhor falar em propaganda, essa técnica de manipulação de comportamentos que atua no terreno fértil das emoções, dos sonhos e dos símbolos.
O propagandista busca resultados rápidos; não ensina como pensar, mas em que pensar; não induz à responsabilidade individual e ao espírito aberto, mas utilizando-se de efeitos de massa, busca produzir um espírito bloqueado. Além disso, os experts em propaganda conhecem aquele pensamento de Freud: “A maioria dos homens experimenta a imperiosa necessidade de admirar uma autoridade, perante a qual possa se inclinar e pela qual seja dominada e por vezes maltratada”.
Naturalmente a propaganda sempre foi praticada, mas agora, além do maior requinte de estratégias, existem meios de comunicação de massa muitíssimo mais eficientes para propagar a propaganda. Assim, o pensar por si próprio, esse grande mal que os poderosos jamais toleraram (Sócrates foi executado pelos atenienses por corromper a mocidade ao fazê-la pensar por si mesma) hoje se torna cada vez mais difícil de ser exercido, pelo menos pela grande maioria.
A propaganda pode ser feita, entre outras maneiras, através da censura, quando se reveste de dois aspectos: 1º - Controle seletivo de informações a fim de favorecer determinado ponto de vista. 2º - Deliberada deturpação de informações (o que lembra o “duplipensar” que Orwell descreveu em “1984”).
O político que se prepara para alcançar o poder, deve encarnar em sua própria imagem a propaganda através de símbolos. Exemplo: ele enverga a personagem do operariado, simbolizando desse modo a classe dos trabalhadores, dos oprimidos, dos explorados. Com isso, atrai a simpatia e a solidariedade do eleitorado. E na medida em que sendo um “humilde operário” consegue se elevar aos píncaros do poder, redime toda a classe que representa, pois esta sente como numa ilusão de ótica ideológica, que também chegou lá através do seu “salvador”.
O político deve ser muito bem treinado para saber usar a sugestão. Assim, dará a impressão de que defende o que está de acordo com as crenças existentes, e que não representa nenhuma ameaça às convicções do seu público.
Mais ainda, o político em campanha (e hoje em dia tem-se a impressão de que as campanhas são permanentes) deve ser instruído por seus propagandistas para dirigir-se ao povo através de discursos baseados em “pontes” de acesso a mentalidade coletiva, tais como: consideração de problemas simples e não complexos (os pobres têm fome), confirmação de preconceitos (a Alca vai nos colonizar porque os americanos são maus e nos exploram), sensação de pertencer a alguém ou a alguma coisa, que não pertencem a outros (a mística do partido sem mácula), ênfase em um inimigo a quem culpar por frustrações (qualquer ‘herança maldita” serve).
Pesquisa CNT/Sensus, divulgada em 21/10/03 e publicada na Folha de São Paulo, em 22/10/03, mostrou que a popularidade do presidente sofreu sua maior queda desde a posse (caiu 8,3 pontos percentuais, passando de 76,7 para 70,6). A Avaliação do governo também piorou. Os índices de ótimo e bom ficaram em 40,7 contra 47,9% de agosto. Em que pese, portanto, a continuidade de uma espécie de catalepsia popular, nota-se que a propaganda tem seus limites, ainda que eles sejam muito extensos.