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A opção preferencial por Cuba


Recentemente o presidente da República esteve, entre suas muitas viagens, em Cuba. Foi foi rever seu grande amigo Fidel Castro e levar-lhe uma ajuda razoável de quatrocentos milhões de dólares, apesar deste auxílio ser bem menos generoso do que os dois bilhões de dólares entregues a Hugo Chávez, da Venezuela. Enfim, como Brasil, Cuba e Venezuela parecem formar uma tríplice aliança, fica tudo em casa, mas haja dinheiro no BNDS.
Os encontros do presidente brasileiro com o ditador da Ilha foram privados e, assim, ninguém sabe realmente o que foi conversado entre os dois, apesar de ter sido noticiado que Lula teria tocado no tema dos direitos humanos com El Comandante. Se isso de fato aconteceu, Castro, entre um gole de rum e uma baforada de charuto, não deve ter prestado atenção porque não liga a mínima para essa coisa burguesa de direitos, ainda mais humanos. Recentemente o ditador mandou para o “paredón” três fugitivos do seu regime, fato que causou indignação mundial e provocou o desencanto de vários de seus admiradores. No Brasil houve apenas uma displicente indiferença diante do assassinato dos que fugiam rumo à liberdade, e da prisão de mais de setenta jornalistas por crime de opinião. Afinal, como afirmou Frei Beto, temos que respeitar as leis de Cuba, tendo se esquecido o bom irmão leigo que na Ilha os tribunais são de exceção e a “lei” é o arbítrio do tirano.
Mas o fato é que nosso presidente parece ainda envolto nos eflúvios desprendidos da atmosfera comunista da Ilha. Isso transpareceu sutilmente quando Sua Excelência, num arroubo de entusiasmo característico dos que usufruem de grande poder, afirmou na inauguração de um conjunto habitacional em Blumenau, que se existem 4,5 milhões de residências desocupadas em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, “vamos ter de encontrar um jeito de transformar esses prédios desocupados em habitações para pessoas pobres”. O presidente raciocinou que como o déficit habitacional é de 6,5 milhões de unidades, “seria pouca coisa se os 4,5 milhões de imóveis desocupados fossem aproveitados”. E como esses imóveis já possuem obras de saneamento e energia elétrica, seriam perfeitos para os pobres, segundo Sua Excelência. Além do mais, discursou: “as pessoas poderiam ir morar no centro da cidade a um preço compatível com o salário que ganham”. (O Estado de S. Paulo, 04/10/03).
Alguém já viu esse filme, passado em Cuba ou na extinta ex-União Soviética a qual, aliás, parece estarmos substituindo no sustento de Cuba? Como era de se esperar, sugiram rápidas interpretações das palavras presidenciais. O secretário Nacional da Habitação do Ministério das Cidades, Jorge Hereda, traduziu o intento do presidente não como um sinal dado para ocupações de imóveis vazios, nem como senha para a extinção da propriedade privada que, diga-se de passagem, no campo já é processo adiantado através do MST. Hereda explicou que tudo não passa de um futuro projeto habitacional em parceria com a prefeitura de São Paulo. No caso paulistano o secretário ainda esclareceu que: “são imóveis vazios mas têm donos”. Ele nada disse sobre os imóveis vazios e com dono do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e de outras cidades.
De todo modo, está havendo da parte do governo uma clara opção preferencial por Cuba e pelos pobres do planeta, enquanto nos afastamos cada vez mais dos Estados Unidos, Canadá e Europa. Mas será que os pobres querem ser liderados pelo presidente Lula?
Na reunião de Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, onde delegações de 34 países se reuniram para o encontro vice-ministerial da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o Brasil obteve seu maior fiasco diplomático e conseguiu desagradar não só aos Estados Unidos como a maioria dos países latino-americanos e até nossos parceiros do Mercosul. Tal fato para um presidente que tem pretendido se colocar como líder da América Latina e dos pobres à nível mundial, tendo chegado mesmo a dizer: “eu estou achando que o planeta terra está ficando pequeno para nossas metas” (O Estado de S. Paulo, 03/10/03), é no mínimo paradoxal. E do jeito que a coisa vai só nos restará rum, charuto, banana e açúcar, menos, é claro, cuba libre.

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