Eleições na Califórnia
Se a diversidade é a maior marca dos Estados Unidos, é possível dizer, sem sombra de dúvida, que o maior exemplo interno desta característica é representado pelo estado da Califórnia. Quando passou a fazer parte formalmente da federação como o trigésimo primeiro estado, ainda em 1850, possuía apenas 92.000 habitantes. Hoje já são mais de 35 milhões, onde 47% são considerados brancos não-hispânicos, 32% hispânicos, 11% de origem oriental e 7% de negros. Em um país formado de imigrantes, a Califórnia situa-se como o maior exemplo do principal traço de formação da nação norte-americana, visto que é o estado com mais forte imigração. Possui o maior condado dos Estados Unidos, San Bernardino, e em expansão territorial somente perde para os estados do Alasca e Texas. Entretanto, é o mais populoso, o que lhe confere mais cadeiras no parlamento e 54 importantes votos no colégio eleitoral que elege o presidente.
Não há dúvida sobre a importância da Califórnia para os Estados Unidos, sem falar da influência exercida por Hollywood e os dois grandes centros do oeste americano, Los Angeles e São Francisco.
Entretanto, como todas as unidades que formam os Estados Unidos, a Califórnia possui peculiaridades, especialmente em virtude do sistema federativo descentralizado. O estado, assim como todos, possui leis próprias, onde está concentrada sua autonomia. Entre as leis estaduais está estabelecido um dispositivo de consulta popular, que em determinados casos, pode levar a destituição do governador no curso de seu mandato e a eleição de um substituto. Ao todo, 18 estados possuem tal dispositivo. O único caso de destituição conhecido na história é o do estado da Dakota do Norte, que em 1921 destituiu o governador Lynn Frazier. Portanto, é possível que o governador californiano Gray Davis possa ter o mesmo destino de Frazier após 82 anos.
Logo, a consulta do dia sete de outubro possui maior importância do que se pode imaginar. Lembro da antiga pujança da Califórnia, que crescia 20% a mais do que os outros 49 estados, no período em que lá vivi, entre as décadas de 80/90. Hoje, porém, o passado se confronta com a triste realidade de sua economia. A presente administração, do democrata Gray Davis, não tem sido feliz. Quando foi eleito para seu primeiro termo, em 1998, o estado possuía superávit de 12 bilhões de dólares e hoje amarga um déficit estimado em 38 bilhões para os anos de 2003/04. Os impostos também cresceram de maneira assustadora, o que levou a Califórnia a possuir a quarta maior carga tributária dos Estados Unidos (apenas atrás dos estados de Nova Iorque, Connecticut e Massachusetts). Todos estes fatores, aliados também a crise de energia, levaram o estado a perder 300.000 empregos nos últimos três anos, transferidos para estados vizinhos, como Nevada, Utah e Arizona. Hoje, a Califórnia é considerada um dos piores estados americanos para os empreendedores, perdendo somente para o sulista Mississipi. É uma péssima realidade para um estado que sempre possuiu a característica de ser uma terra de oportunidades e liberdade.
No caso de a população decidir pelo afastamento do governador democrata Gray Davis, terá que escolher entre outros 133 candidatos que desejam ocupar a cadeira de governador em Sacramento. Os nomes são os mais variados, entretanto, dentre aqueles que realmente podem vencer a eleição, vale lembrar os nomes do vice-governador democrata, Cruz Bustamante, e dos representantes do Partido Republicano, que convergem quanto aos mecanismos liberalizantes na economia para tirar o estado da atual situação: o senador republicano Tom McClintock e o ator e imigrante austríaco Arnold Schwarzenegger, que lidera as pesquisas. Vale lembrar que Gray Davis somente venceu a última eleição porque o Partido Republicano indicou um candidato conservador, contudo, aprendida a lição, os republicanos lançaram Arnold, um republicano moderado. Logo, suas chances são grandes..
Este pleito é de fundamental importância para a política nacional norte-americana, visto que os resultados apresentados pelo próximo governo estadual da Califórnia podem influenciar a tendência de seus 54 votos no colégio eleitoral presidencial do próximo ano. Se os republicanos vencerem e sua política de corte de impostos gerar resultados, talvez a parte sul do estado, liderada por Los Angeles, de tendência republicana, vença o norte, de tendência democrata, vitoriosa na última eleição presidencial no estado em 2000, o que seria uma ótima notícia para o presidente Bush. Porém, a eleição de Bustamante seria um marco para comunidade hispano-americana da Califórnia, o que pode resgatar algum tipo de prestígio para o Partido Democrata, afinal, em 20 anos o número de latinos deve superar o de brancos não-hispânicos no estado. Enfim, para aqueles que gostam ou não dos encantos da Califórnia, fica o lembrete: as implicações do resultado desta eleição podem tomar proporções maiores do que o imaginado no que tange a política nacional dos Estados Unidos.
Artigo redigido em 05.10.2003
Em Brasília, DF.
Não há dúvida sobre a importância da Califórnia para os Estados Unidos, sem falar da influência exercida por Hollywood e os dois grandes centros do oeste americano, Los Angeles e São Francisco.
Entretanto, como todas as unidades que formam os Estados Unidos, a Califórnia possui peculiaridades, especialmente em virtude do sistema federativo descentralizado. O estado, assim como todos, possui leis próprias, onde está concentrada sua autonomia. Entre as leis estaduais está estabelecido um dispositivo de consulta popular, que em determinados casos, pode levar a destituição do governador no curso de seu mandato e a eleição de um substituto. Ao todo, 18 estados possuem tal dispositivo. O único caso de destituição conhecido na história é o do estado da Dakota do Norte, que em 1921 destituiu o governador Lynn Frazier. Portanto, é possível que o governador californiano Gray Davis possa ter o mesmo destino de Frazier após 82 anos.
Logo, a consulta do dia sete de outubro possui maior importância do que se pode imaginar. Lembro da antiga pujança da Califórnia, que crescia 20% a mais do que os outros 49 estados, no período em que lá vivi, entre as décadas de 80/90. Hoje, porém, o passado se confronta com a triste realidade de sua economia. A presente administração, do democrata Gray Davis, não tem sido feliz. Quando foi eleito para seu primeiro termo, em 1998, o estado possuía superávit de 12 bilhões de dólares e hoje amarga um déficit estimado em 38 bilhões para os anos de 2003/04. Os impostos também cresceram de maneira assustadora, o que levou a Califórnia a possuir a quarta maior carga tributária dos Estados Unidos (apenas atrás dos estados de Nova Iorque, Connecticut e Massachusetts). Todos estes fatores, aliados também a crise de energia, levaram o estado a perder 300.000 empregos nos últimos três anos, transferidos para estados vizinhos, como Nevada, Utah e Arizona. Hoje, a Califórnia é considerada um dos piores estados americanos para os empreendedores, perdendo somente para o sulista Mississipi. É uma péssima realidade para um estado que sempre possuiu a característica de ser uma terra de oportunidades e liberdade.
No caso de a população decidir pelo afastamento do governador democrata Gray Davis, terá que escolher entre outros 133 candidatos que desejam ocupar a cadeira de governador em Sacramento. Os nomes são os mais variados, entretanto, dentre aqueles que realmente podem vencer a eleição, vale lembrar os nomes do vice-governador democrata, Cruz Bustamante, e dos representantes do Partido Republicano, que convergem quanto aos mecanismos liberalizantes na economia para tirar o estado da atual situação: o senador republicano Tom McClintock e o ator e imigrante austríaco Arnold Schwarzenegger, que lidera as pesquisas. Vale lembrar que Gray Davis somente venceu a última eleição porque o Partido Republicano indicou um candidato conservador, contudo, aprendida a lição, os republicanos lançaram Arnold, um republicano moderado. Logo, suas chances são grandes..
Este pleito é de fundamental importância para a política nacional norte-americana, visto que os resultados apresentados pelo próximo governo estadual da Califórnia podem influenciar a tendência de seus 54 votos no colégio eleitoral presidencial do próximo ano. Se os republicanos vencerem e sua política de corte de impostos gerar resultados, talvez a parte sul do estado, liderada por Los Angeles, de tendência republicana, vença o norte, de tendência democrata, vitoriosa na última eleição presidencial no estado em 2000, o que seria uma ótima notícia para o presidente Bush. Porém, a eleição de Bustamante seria um marco para comunidade hispano-americana da Califórnia, o que pode resgatar algum tipo de prestígio para o Partido Democrata, afinal, em 20 anos o número de latinos deve superar o de brancos não-hispânicos no estado. Enfim, para aqueles que gostam ou não dos encantos da Califórnia, fica o lembrete: as implicações do resultado desta eleição podem tomar proporções maiores do que o imaginado no que tange a política nacional dos Estados Unidos.
Artigo redigido em 05.10.2003
Em Brasília, DF.